Que prazer tenho quando chega aquela hora do dia, quando não tenho que ser mais nada, quando não tenho que ser de ninguém. Sou só de mim mesma, sem personagem algum. Geralmente até ai já passamos da meia noite. Até ai o cansaço se foi, e a cabeça começa a borbulhar seus pensamentos incessantes, suas ideias nada brilhantes, seu desejo de voltar a ser só matéria viva, sem ler os muitos detalhes minuciosamente escritos no tal roteiro.
Eu sempre imaginei que quando a gente vive demais, acaba criando um roteiro pra própria vida. Talvez pelo simples fato de querer imortalizar-se. Mas quando se cria um roteiro o eu da gente, tadinho, ele dorme de desgosto porque não pode ser sem culpa. Quando a gente descobre tudo isso, sente um remorso tão grande. Dói demais descobrir que esqueceu do próprio eu...
Mas pra isso tem solução! É preciso apenas acorda-lo. Com um pouco de calma e concentração, a gente senta e acorda o nosso eu, com um carinho bem bom, ou um cafuné. Encosta ao lado e conversa com ele, recorda das intimidades da infância, de brincar na banheira a tardezinha, de casar as bonecas e desenhar o sol quadrado, andar de bicicleta e deitar nas calçadas da rua jogando papo fora com as outras crianças.
Eu tenho encontrado o meu eu nas madrugadas, quando o dia chega no fim e a fantasia de gente grande com a mascara das preocupações são trocadas pelo pijama. E tem sido bom, acho até que previne as rugas viu?
Peço a Deus que ajude a me livrar dessas fantasias e máscaras de gente séria e idosa - por dentro, e as vezes por fora também - que com o tempo vão querer se acumular em mim.
Ai com certeza o próximo passo será: Deixar-se ser mais, de dia também.
- Pra acabar com as olheiras.
- Pro riso ficar mais leve.
E pro meu eu ser sem culpa...
Um beijo estalado pro eu de quem leu!
Beatriz Oliveira.